A Páscoa, que teve desde o princípio uma irradiação tão luminosa para diante fazendo dos cinquenta dias de Pentecostes uma única festa pascal, fez sentir também o seu influxo sobre o tempo que a precede.
Já no século II os cristãos se preparavam para a festa da Páscoa com um jejum de dois dias, a sexta e o sábado que precedem a Vigília. Mas em breve se veio a estabelecer um tempo de preparação antes do Tríduo, cuja duração variou conforme as épocas e as Igrejas. Disto nos ocuparemos mais adiante.
A natureza deste tempo é comandada pelo seu termo: a Páscoa, a celebração da Paixão e ressurreição do Senhor. A Quaresma, se tem um sentido, e precisamente o de preparar-nos para uma inteligência da Páscoa integral a fim de nos dispôr também a revivê-la integralmente. Como descobrir este sentido da Quaresma?
Em primeiro lugar, vivendo com verdade as propostas que a Igreja nos faz ao longo deste tempo. É preciso notar que o que deu à Páscoa a sua plena significação foi a verdade restituída aos ritos e às orações da Vigília pascal. Que poderiam significar textos e cerimónias que supunham e recordavam uma Vigília nocturna, quando eram reproduzidos numa missa matinal ordinária? Esta reforma tão simples mas tão fundamental é evidentemente a primeira que se impõe para que a Quaresma seja verdadeiramente a preparação eficaz para a Páscoa, segundo os princípios da renovação conciliar.
Já no plano histórico e litúrgico se experimentou precisamente a necessidade de uma caminhada, de uma ascensão preparatória que permita acercar-se de Jerusalém. De facto, não é possível abordar sem preparação o Tríduo pascal e os mistérios que ele propõe.
A instituição da Quaresma está concebida como uma marcha para esse mistério de libertação e de renovação. É um tempo para nos desligarmos do homem velho, um tempo de renovação sobretudo mediante aos sacramentos. Por isso, as características particulares deste tempo litúrgico, para além das assembleias eucarísticas, relacionam-se principalmente com dois elementos: a preparação dos catecúmenos para o baptismo e a preparação dos penitentes para a reconciliação. Aos catecúmenos a Igreja propõe-lhes a entrada, mediante o baptismo, numa criação nova; aos já baptizados, uma revisão de vida, um passo em frente na divinização que lhes foi outorgada em princípio mas que deverá ser restaurada e actuada de uma forma sempre mais consciente e profunda.
Período de esforço ascético papa seguir a Cristo na sua morte ao pecado, tempo apto para escutar a palavra de Deus recebida na Liturgia, para reunir o povo a fim de o dispôr e conduzir às celebrações pascais, tudo isto é a Quaresma, tudo isto é a preparação da Páscoa.
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