Hoje, Mossoró celebra 30 anos de vida da Fundação Sócio Educativa do RN e, 82 anos do seu presidente-fundador, Pe. Sátiro.
Duas histórias que se mesclam. Por que? Minha interpretação
Nas suas bodas de prata, após 25 anos de serviço à Igreja e à sociedade mossoroense, seria mais do que justo, Pe. Sátiro convidar os amigos e familiares pra gozar um final de semana de festa, animada pelo sambista Jorge Aragão, em Tibau ou lá em Poço de Pedras, o seu berço, onde tudo começou. Ou então, se quisesse, poderia ter ido turistar na Europa, rever seus velhos amigos de estudo e visitar a terra dos seus santos prediletos - João da Cruz, Teresa de Lisieux, Francisco e Clara, e, antes de pegar o avião de volta, faria uma rápida visita no Vaticano, pra receber a benção apostólica do Papa.
Duas histórias que se mesclam. Por que? Minha interpretação
Nas suas bodas de prata, após 25 anos de serviço à Igreja e à sociedade mossoroense, seria mais do que justo, Pe. Sátiro convidar os amigos e familiares pra gozar um final de semana de festa, animada pelo sambista Jorge Aragão, em Tibau ou lá em Poço de Pedras, o seu berço, onde tudo começou. Ou então, se quisesse, poderia ter ido turistar na Europa, rever seus velhos amigos de estudo e visitar a terra dos seus santos prediletos - João da Cruz, Teresa de Lisieux, Francisco e Clara, e, antes de pegar o avião de volta, faria uma rápida visita no Vaticano, pra receber a benção apostólica do Papa.
Nada disso. No lugar de gastar com festas e aplausos, nos seus aniversários, prefere retiro, silêncio, oração. Naquele, dos 25 anos de padre, foi muito mais além. Os presentes dos amigos e as suas moedas, juntadas ao longo do tempo, foram aplicadas em um bem precioso e duradouro: a construção do alicerce daquilo que hoje conhecemos por FUNSERN. Talvez, hoje, seja, para muitos, somente mais uma fundação, entre tantas. Naquela época, não. Há 30 anos, a FUNSERN era para o presidente-fundador da mesma, a realização de um dos seus mais ambiciosos sonhos.
Se hoje, Mossoró continua rodeada por comunidades carentes, esquecidas por aqueles que governam, naquela época, não era muito diferente. Sátiro, um padre, um cidadão, profundamente consciente do quadro social de então, não se contentou em resumir a sua vida, como catedrático, ensinando aos seus alunos de sociologia, teorias que explicavam as causas e as consequências da exclusão social, bem como, o efeito degradante de um sistema econômico selvagem que fazia expandir no mundo a desigualdade, o desemprego, a fome e a violência.
Ele, o padre culto, lia e lê tudo o que é necessário para poder interpretar os fenômenos sociais e religiosos, com mais prudência e conhecimento de causas. Naquela época, há mais de 30 anos, para ele, não bastava apenas fazer publicações de análises científicas da realidade social do seu tempo, escrevendo obras como, por exemplo, “o fenômeno das secas no Nordeste”, “a evolução histórica dos pensamentos sociais”, a “contribuição de Leão XIII à questão social”, entre outras. E, por último, penso eu, ele imaginou que, passar toda a sua vida, educando os filhos fortunados no Diocesano, sem se engajar diretamente no serviço em prol dos mais carentes, não o realizaria por completo.
Ele, o padre culto, lia e lê tudo o que é necessário para poder interpretar os fenômenos sociais e religiosos, com mais prudência e conhecimento de causas. Naquela época, há mais de 30 anos, para ele, não bastava apenas fazer publicações de análises científicas da realidade social do seu tempo, escrevendo obras como, por exemplo, “o fenômeno das secas no Nordeste”, “a evolução histórica dos pensamentos sociais”, a “contribuição de Leão XIII à questão social”, entre outras. E, por último, penso eu, ele imaginou que, passar toda a sua vida, educando os filhos fortunados no Diocesano, sem se engajar diretamente no serviço em prol dos mais carentes, não o realizaria por completo.
A partir daí, possuidor de um profundo conhecimento dos desafios da realidade do seu povo, movido por uma espiritualidade libertadora e encantado por uma Igreja que renascia do último concílio, Pe. Sátiro sonhou transformar 10 hectares de terra, na periferia de Mossoró, naquilo que seu amigo Agostinho chamava de "A Cidade Celeste".
Muitas noites, nos anos que precederam a elaboração do projeto, ele sonhava vendo nas suas 10 hectares: escola, posto de saúde com médico de plantão, assistência social, creche, quadra esportiva, fábrica de sabão, rádio, área de lazer, Igreja e muito mais. Na sua cabeça, ele via crianças felizes, livres, brincando com seus pais nas praças, famílias unidas, movidas pelo cooperativismo, pela espírito solidário, ruas limpas, enfeitadas de gente feliz, uma Igreja como lugar de encontro, de oração, de partilha, de irmandade. Assim era a cidade de Agostinho, o lugar que, seguramente, Sátiro desejava vê-la.
Certa vez, Pe. Sátiro confessou ao jornal “O Mossoroense” que o princípio fundante que o movia para construir a FUNSERN era “despertar o espírito de cooperação, corresponsabilidade, participação e comunhão, na solução dos problemas vivenciais do bairro”.
Muitas noites, nos anos que precederam a elaboração do projeto, ele sonhava vendo nas suas 10 hectares: escola, posto de saúde com médico de plantão, assistência social, creche, quadra esportiva, fábrica de sabão, rádio, área de lazer, Igreja e muito mais. Na sua cabeça, ele via crianças felizes, livres, brincando com seus pais nas praças, famílias unidas, movidas pelo cooperativismo, pela espírito solidário, ruas limpas, enfeitadas de gente feliz, uma Igreja como lugar de encontro, de oração, de partilha, de irmandade. Assim era a cidade de Agostinho, o lugar que, seguramente, Sátiro desejava vê-la.
Certa vez, Pe. Sátiro confessou ao jornal “O Mossoroense” que o princípio fundante que o movia para construir a FUNSERN era “despertar o espírito de cooperação, corresponsabilidade, participação e comunhão, na solução dos problemas vivenciais do bairro”.
É claro, nem tudo o que ele sonhou, tornou-se realidade. É normal. Muitos fatores blocam ou até frustram certos projetos, porém, o fabuloso é que, em nenhum momento, Pe. Satiro parou de sonhar. Até pouco tempo, fervilhava/fervilha na sua mente ideias e projetos ousados, como a construção da Casa do Silêncio para retiros religiosos, construção de um Centro Social de apoio e orientação às vítimas da prostituição; fazer a Casa dos Romeiros e devotos de Santa Clara, entre outros.
Creio que comemorar 30 anos da FUNSERN é festejar o bem que ela fez e continua fazendo pra Mossoró, bem como, fazer memória das vitórias e derrotas, das alegrias e tristezas que marcam o trigésimo aniversário da instituição. É ocasião especial pra recordar os sonhos, os projetos, os esforços e a luta incansável das pessoas que trabalharam e acreditaram na construção da FUNSERN. Como diz o modesto Pe. Sátiro, não sou ninguém, não faria nada, se não fossem as pessoas iluminadas que me circundam.
Pe. Sátiro, o aniversariante twitteiro de 82 anos
Eu já estudava algo sobre redes sociais na internet, porém, ejetei mais ânimo quando vi um padre na casa dos 80 fazendo do Twitter, seu espaço de diálogo com seus amigos, bem como, de partilha daquilo que ele é e pensa. Não usa o Twitter pra doutrinar ninguém, nem muito menos, pra se autopromover.
Ao contrário, faz da rede social um meio para expandir sua humanidade, sua espiritualidade, fazer lúcidos comentários sobre os documentos papais, revelar seu enamoramento com Agostinho, Clara, João da Cruz, Teresa d’Avila, São Franciso. Mais também, revela, com muita humildade e transparência, suas noites escuras, suas angústias e preocupações, a dor da cruz, as incongruências que perduram no nosso ser Igreja. Confesso que, sempre admirei a sabedoria e a identidade presbiteral deste aniversariante, mas, passei a admirá-lo mais ainda, quando testemunhei o Sátiro padre, humano, espiritual e transparente.
Digo isso porque, geralmente, nós, padres, aparecemos nas redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter) muito bonitinhos, perfeitos até no vestir. Depois, enchemos nossas páginas de versículos bíblicos, de frases prontas, de linguagem imperativa. Tudo bem, talvez isso seja importante, porém, pergunto-me, até quando, o meu amigo do outro lado da rede vai continuar acreditando que, de fato, somos o que aparentamos ser. Portanto, olhando o exemplo de Sátiro, buscar ser honesto, humano e transparente, também nas redes sociais, são valores fundamentais para a construção da reputação e da credibilidade no conteúdo que publicamos em rede.
Ao contrário, faz da rede social um meio para expandir sua humanidade, sua espiritualidade, fazer lúcidos comentários sobre os documentos papais, revelar seu enamoramento com Agostinho, Clara, João da Cruz, Teresa d’Avila, São Franciso. Mais também, revela, com muita humildade e transparência, suas noites escuras, suas angústias e preocupações, a dor da cruz, as incongruências que perduram no nosso ser Igreja. Confesso que, sempre admirei a sabedoria e a identidade presbiteral deste aniversariante, mas, passei a admirá-lo mais ainda, quando testemunhei o Sátiro padre, humano, espiritual e transparente.
Digo isso porque, geralmente, nós, padres, aparecemos nas redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter) muito bonitinhos, perfeitos até no vestir. Depois, enchemos nossas páginas de versículos bíblicos, de frases prontas, de linguagem imperativa. Tudo bem, talvez isso seja importante, porém, pergunto-me, até quando, o meu amigo do outro lado da rede vai continuar acreditando que, de fato, somos o que aparentamos ser. Portanto, olhando o exemplo de Sátiro, buscar ser honesto, humano e transparente, também nas redes sociais, são valores fundamentais para a construção da reputação e da credibilidade no conteúdo que publicamos em rede.
Enfim, para aqueles que ainda não acompanham Pe. Sátiro no Twitter, soltarei a seguir, alguns dos seus magníficos insights , escritos no endereço @pesatiro, ultimamente.
A formação permanente nunca me deixará velho, dizem
Sátiro: “Tenho paixão pela existência dentro de cada época, por isso, adoro a formação permanente, daí, perguntam: não fica velho?"
O presente recebido das irmãs clarissas
Sátiro: “Recebi das irmãs clarissas um presente formidável: o respeito pelo vida e a graça da formação permanente são capítulos formidáveis, estou devorando-os.”
Neste abaixo, Pe. Sátiro solta o miolo dos escritos do místico São João da Cruz, com quem ele tem um amor inexplicável
Sátiro: "Padecer e morrer", lema de vida do grande místico São João da Cruz. O roteiro fundamental de seus escritos foram: Noite escura da alma, Subida do monte Carmelo, Chama de amor viva. Resume o amor que levou Jesus à cruz."
A seguir, ele descreve seu lado existencial, humano, e termina comparando sua vida com a de Jó
Sátiro: "Não posso desconhecer Deus, por sua graça. Ele deu-me esta vocação para a educação, tenho derrotas, mas há também, momentos de vitória. Estou me convencendo, cada vez mais, de que meu lugar é o amor da cruz! Na última temporada de minha vida, não é nada fácil. A existência me prendeu, procuro entender o silêncio de Deus, mas ainda sou como Jó não paro."
Olhar prospectivo: ele revela seu otimismo com o futuro da Igreja e, ao mesmo tempo, destaca a importância das redes sociais digitais para a evangelização.
Sátiro: “A Igreja tem que acompanhar a nova época em seus avanços positivos. Vamos aguardar com fé, esperança e caridade!
Quem sabe as comunidades virtuais digitais, não sejam, também, instrumentos urgentes e fundamentais na nova evangelização. Tenho certeza que, no próximo Sínodo dos bispos, as comunidades virtuais serão temas trabalhados."
Bem, as twittadas de Pe. Sátiro sublinhadas aqui, mostram somente um pouquinho daquilo que ele publica, nos seus momentos livres, à noite, talvez, antes de dormir. Por isso, sugiro-lhes dá uma espiadinha e degustar a sabedoria de um homem, portador de uma grande bagagem intelectual, espiritual e humana
Concluo com a twittada abaixo, onde ele revela o peso da idade e as mudanças futuras.
Sátiro: “Não posso esconder, estou na reta final de minha administração. Morre um papa e a Igreja continua. Assim é a vida da Igreja do Cristo da Cruz. Ninguém é insubstituível, somos instrumentos da época, virão outras épocas!”
Quem é Pe. Sátiro? Alguns dados relevantes ao longo dos seus 82 anos de vida
Formação intelectual
Curso de Filosofia, realizado no Seminário Central Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo, RS, no período de 1949 a 1951.
Curso de Teologia Dogmática, realizado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, no período de 1951 a 1954.
Curso de Licenciatura Plena, realizado na Universidade Católica de Pernambuco, no ano de 1970.
Curso de Ciências Jurídicas, realizado na Fundação Pe. Ibiapina, em Souza, PB, no período de 1974 a 1977.
Especialização para Docentes do Ensino Superior, área de Sociologia.
Padre Sátiro escritor: alguns dos seus trabalhos publicados
O Fenômeno das secas no Nordeste – Col. Mossoroense 210.
Contribuição de Leão XIII à Questão Social, Col. Mossoroense 86.
Evolução Histórica dos Pensamentos Sociais da Antiguidade até Augusto Comte – Col. Mossoroense 216.
Perfil Psico-Social do Educador, publicado no Jornal o Mossoroense,
Os Jesuítas no Brasil, publicado pelo “O Seminário”, Revista dos Seminaristas do Brasil, São Leopoldo, RS.
De Collectiva Hominum Responsabilitate – trabalho apresentado para obtenção de Licenciatura na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Principais cargos e experiências professionais
Diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, desde 1961
Presidente e Fundador da Fundação Sócio-Educativa do Rio Grande do Norte – FUNSERN em 05/03/81.
Membro do Conselho Econômico do Departamento Diocesano de Ação Social – Diocese de Santa Luzia de Mossoró – RN.
Membro Titular do Conselho Estadual de Educação-RN, a partir de 18/12/88 durante o período de 12 anos – Presidente por 05 mandatos.
Diretor Fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e letras de Mossoró, 1967-1969.
Professor de Sociologia do instituto de Ciências Humanas, 1967-1981.
Reitor da Universidade Regional do Rio Grande do Norte, entre 05/08/85 a 07/01/87.
Diretor Vice-Presidente da Fundação Santa Luzia de Mossoró, 1985-1989.
Pesidente da ACODINE- Associação dos Colégios Diocesanos do Nordeste – 2000/2001.
Padre Talcay Chaves
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